sábado, 4 de janeiro de 2014

0 2013

no último ano aprendi diversas coisas.
as que eu mais gostei foram sobre mim.

não importa se tenho 35. como antes, como aos 15, tenho um defeito que parece incurável: a intempestividade.
eu não sabia a palavra, até ontem, conversando com a eva sobre o carma. parece que esse é o meu.
tento mudar, todas as vezes. especialmente quando vejo que estou a ponto de explodir. tento conter. tento ser ponderada, refletir, calar, mas jorra, tudo jorra daqui...
ontem, naquele local coxinha em que eu trabalho, entra uma das supremas e começa a reclamar sobre o programa de distribuição de leite aos alunos. porra. respirei fundo, mas mesmo quando tento me conter, as pessoas provocam.
blablablá, pq isso é um absurdo, vc não acha?
não, não acho.
cricricri. sim, foi o momento. sou responsável por vários momentos cricricri, eu e minha grande boca.
saí da sala. se ficasse, explodiria. eu sempre explodo.
não, não estou orgulhosa do meu defeito. mas eu o reconheço. assumo. e me aceito.

de tanto o tio nei insitir com o respira, acabei mesmo aprendendo. bom, com o defeito da intempestividade, é o mínimo que posso fazer.
briguei muito esse ano. briguei principalmente contra as injustiças. nenhuma foi confortável, todas doeram, as internas então, cacete, tive vontade de socar minha própria cara algumas vezes. não ganhei todas, não me lembro de ter ganhado nenhuma. mas acredito que todas valiam a pena.
briguei para me defender de algumas acusações que considerei e considero injustas, briguei pelo meu direito de ter mudado, briguei para poder ser eu mesma. vou continuar brigando por isso.

no começo de 2013, fui processada. não foi confortável. eu sabia que não estava errada, que não havia possibilidade de perder, mas putaqueopariu, ô sensação desagradável essa.
precisei de um advogado, mas o que o marquinhos nem desconfia é que precisei dele para me conter. meu medo era precisar abrir a boca na audiência e... brigar.

a bea se queimou seriamente.
a bea foi diagnosticada com labirintite. para algumas pessoas isso é bobeira, para outras pessoas, assustador. para mim é bobeira, pq o que pouca gente sabe é que a suspeita, enquanto realizávamos todos os exames, era de um tumor cerebral. a labirintite, portanto, é uma benção daqui do lugar onde estou sentada.

eu achava que era uma pessoa de raízes, mas descobri que gosto de ter rodas nos pés. viajei muito em 2013, se considerar meus padrões anteriores. comecei com guarujá, depois ubatuba, rio de janeiro (duas vezes), piacatu, mato grosso do sul... teria voltado à argentina se tudo estivesse mais tranquilo por aqui.
e mais importante: todas essas viagens foram feitas com o maior prazer.

andei de avião de novo e nem chorei dessa vez, até curti.

troquei de emprego. não gostei no começo, gostei no meio e agora no final continuo gostando. o final não precisa ser final, mas ainda não tenho certeza de nada. para que certeza?

fiz amigos absolutamente deliciosos! sandra, lívia, néia, vanessa, elizabete, cleuber, marcio e as nossas manhãs divertidíssimas. estressantes tbm com aqueles diretores loucos, mas tê-los comigo fez toda a diferença.

curei uma velha dor de cotovelo. mais importante que isso, desconstruí um personagem que eu, sozinha, inventei. o cara que eu amei nunca existiu, e embora isso pareça dramático, é muito verdade. vivi um pequeno período de luto quando descobri isso, mas foi bom. e agora posso até ser amiga sem frescuras. entender as vezes aquele velho clichê de que o que a gente ama é o amor, ou o espelho, é bom pra caralho.

meu tio parou de beber. são só 6  meses e ele vai ser alcoólatra para sempre, mas o que importa é o agora. agora ele está sóbrio, agora ele dá paz para minha avó, que me dá paz! ele se cuida melhor, ela se cuida melhor, eu me cuido melhor, a bea se cuida melhor... estamos todos juntos, né? o que afeta um, afeta o outro.

meu irmão aprontou, foi jubilado da usp, e não existe nenhum mas para eu escrever sobre isso. fiquei triste, fiquei puta, e tento lembrar todos os dias que é a vida dele, são as escolhas dele.

aprendi a me amar. eu sei, é uma vergonha que isso só tenha acontecido aos 35 anos. voltei a me olhar no espelho. eu sei de novo, é ridículo, mas eu não me olhava mais. gostei do que vi, mas percebi que precisava de uns consertos... corri aos médicos, fiz os exames, tratamentos, até no dentista, que fujo mais do que o diabo foge da cruz, eu fui! comecei a prestar mais atenção nas porcarias que coloco pra dentro, e devagarinho, comecei a emagrecer. sabe o que foi mais engraçado? comecei a emagrecer no momento em que, mesmo gorda, comecei a me achar bonita.
tem umas molezas. umas estrias novas, celulites que nunca tinham aparecido nas minhas belas pernocas, umas ruguinhas ao redor dos olhos... que eu gosto, pq gosto muito da alternativa de envelhecer!

essa foi a parte mais bacana: percebi que eu quero muito estar viva. eu não quero mais a morte.
tem muita coisa ainda e eu quero estar aqui para ver todas. talvez com a memória combalida, com os peitos caídos, cheia de rugas na testa, mas eu quero muito estar na vida.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

o bendito (?) do carma

liguei o computador pq precisava responder umas mensagens vencidas no facebook e odeio escrever pelo celular. daí, no meio do caminho, lembrei que precisava vomitar o que tem atormentado minha cabeça nas últimas semanas: carma.
estou vomitando, portanto, não quero ordem por aqui. tudo jorrando, aleatoriamente conforme o que me vem à cabeça no melhor estilo desabafo. quer dizer, mais ou menos, pq não consigo controlar o toc a ponto de não voltar e fazer as correções ortográficas e de digitação imediatamente...
anyway. caraio, o que é isso, tô pagando a língua??? sempre odiei essa englishização do português e aqui estou eu completamente dominada por isso.
carma.

na cabeça, o que ronda é:
aqui se faz, aqui se paga.
a vida (ou suas variáveis, como o universo, o mundo) devolve.

máximas do cristianismo:
não faça aos outros o que vc não quer que façam para você.
ame ao próximo como a ti mesmo (portanto, não cague na boca dele - ou isso aqui deveria estar após a máxima citada acima?) 

e tem outras:
amor com amor se paga.
quem com ferro fere, com ferro será ferido.

gaahh. agora, imagina vc, tudo isso gritando dentro da sua cabeça, atordoando sua consciência e impedindo seu sono tranquilo há semanas?
tem motivos, claro. coisas que vão acontecendo ao redor, comigo e com as pessoas que estão na minha vida que, poooorra! dá uma novela. e das mexicanas, que eu tenho talento é para isso, como bem diria meu irmão thiago (apesar de eu discordar da criatura, hunf).

dá tbm um monte de baratos, tipo:
satisfação.
dor.
compaixão.
satisfação.
lamento.
eu te disse!
eu não disse?
decepção.
satisfação.

opa, mas péra, deixa eu exorcizar a vadia vingativa que habita meu corpo e tentar de novo:
compaixão.
lamento.
decepção.
satisfação... (um pouquinho que não sou de ferro)

o problema disso, ou a coisa boa é que de tanto pensar sobre o assunto, percebo também a armadilha que é acreditar em carma:
tá passando fome? carma - fez alguma coisa de ruim pra alguém.
perdeu tudo na enchente? carma - deve ser ruim que nem uma praga.
foi estuprada? carma - fica provocando.
quer dizer. é possível usar o tal do carma para quase tudo de ruim que acontece com as pessoas, coisas essas que poderiam ser evitadas se vivêssemos num mundo mais cooperativo, mais humano, mais solidário, mais amoroso... ai. tanta coisa poderíamos ser.

ah, eu e minhas digressões.
carma.

e o medo? se eu for um pouco má com alguém, vou pagar depois... outro instrumento de controle e culpa, esse carma!
ainda assim, e com tudo isso, como é que a gente explica esse monte de gente pagando pelo que fez?

vou ficar com a explicação do sábio dr. house: não é pq vc ama que vai dar certo, ou que vc não ama que vai dar errado e vice-versa. não é pq vc é uma pessoa boa que sua vida vai ser um sucesso e não é pq vc não é uma pessoa boa que a sua vida vai dar errado e vice-versa.  não há garantias, todo mundo tem chances de se foder e chances de não. não há nenhuma magia cósmica nisso. quase uma roleta russa, essa vida.

no fim, vou me converter mesmo é a essa tal de aleatoriedade, sem deixar de lado, claro, o lance do diabo da estrutura na questão das injustiças sociais (pq nesse caso, não há aleatoriedade nenhuma).
mas isso é assunto pra próxima conversa. vou tentar dormir que parece que insônia é meu carma.