sábado, 22 de fevereiro de 2014

bate é na memória da minha pele

sabe aquela fala de que sofrimento envelhece?
estava eu aqui brincando de maquiagem, senão pela primeira vez na vida, pelo menos pela primeira vez que me lembro.
ando notando, há alguns meses, que a coisa deu uma caída.
lá em 2012, no aniversário do meu irmão que, como sempre é campeão em detonar minha parca auto-estima:
essas bolsas sob os olhos estão péssimas.
assim. do nada. de repente, um míssil te acerta, e o que era território seguro não é mais.
claro que não foi de repente. mas eu realmente não andava me olhando no espelho.
as bolsas melhoraram. nada como começar a dormir um pouco melhor e ser um pouco mais feliz.
gravem isso: de novo, envelhecimento relacionado a sofrimento.
(pq era assim que eu estava pensando mesmo sem saber que estava)
de uns tempos pra cá, pós sumiço das bolsas, ando reparando na pele. molinha, sabe? as pálpebras meio que esticam e não voltam pro lugar... e ando cuidando mais, passando creme, usando maquiagem. então, eu não sei como era antes, pq antes eu não cuidava e não olhava. não tenho muito parâmetro, imagino que era mais firme, talvez mais fácil pra passar o lápis... se eu passasse lápis.
e pensando agora enquanto pinto meus olhos, de novo, se eu pelo menos não tivesse sofrido tanto... (drama queen)
lembrei de uma amiga. e ela dizendo que nos últimos anos deu mesmo uma caída, pensei mas ela sofreu tanto.
sim. na minha cabeça, má qualidade da pele está relacionada a sofrimento emocional. e se eu for pesquisar no google, aposto que acho uma batelada de pesquisas relacionadas a isso (ou relacionando a má qualidade da pele a falta de sexo. argh. me irrita esse pensamento).
daí nos últimos meses, ando prestando atenção em como a mulherada sofre com essa pressão.
não que eu não enxergasse antes.
só que agora os 40 estão mais perto do que os 30, então.
uma colega de trabalho chorando pq precisava de uma plástica na região dos olhos. e fez. e honestamente, eu gostava bem mais antes.
tem uma senhora que almoça no mesmo lugar que eu. ela me assusta um pouco, o medo do espelho. toda esticada, mas com as dobras nos cantos, como que escondidas só que não. todo o corpo trabalhado (cheio de dobras nos cantos tbm). e sempre penso, que pena que ela não percebeu que envelhecer é melhor que a outra alternativa.
eu podia contar que esses dias ela foi almoçar só com o jaleco do hospital (ela é médica), sem calça com a bunda de fora. mas desqualifica, né? e quem nunca esqueceu as calças? eu já.
a verdade é que todos os dias eu preciso me lembrar que é melhor envelhecer. preciso me lembrar tanto que virou um mantra diário. preciso deixar de lado a cobrança das outras pessoas, além da minha, por um corpo melhor, uma pele melhor, um cabelo melhor, ai, que cansaço. preciso me lembrar de manter a coerência do discurso.
pq por um momento me esqueci. e a consulta com o cirurgião plástico é segunda-feira.
e agora, moleque? vou-não-vou, faço-não-faço, o-importante-é-o-que-eu-sou?
no campo do ideal, tá fácil.
no dia a dia é que o bicho pega.
e não, envelhecer não é sinônimo de sofrimento, tristeza não causa rugas. o que causa rugas é o tempo, que, graças aos deuses, pra algumas pessoas é longo.
espero ficar bem enrugadinha.