sábado, 9 de dezembro de 2017

aos 19

quando eu tinha 19 anos, fiz amigas incríveis.
nos conhecemos um pouco antes de eu completar 19. mas a amizade se consolidou, definitivamente, aos 19.
por causa de uma coisinha que, na época, era minúscula. e estava dentro de mim.
tudo bem que esse não foi o único motivo. com elas eu me sentia incrível, divertida, invencível. com elas, eu me senti feliz como nunca tinha me sentido antes. como se eu pudesse ser amada, apesar de todas as nossas diferenças.
e eu fui.
quando a coisinha minúscula começou a crescer, minha avó falou: vc tá grávida. eu ainda achava que não, mas como a vó tinha fama de sempre acertar. fiz o exame. batata. bea tava aqui dentro.
lembro da eva, pelo telefone, desesperada. vc tá grávida? e vc me diz isso com essa calma? o que vc vai fazer?
nada, por enquanto. quando ela nascer a gente vê.
contei pra maísa num dia em que estávamos dentro do ônibus. ela aos 16, os olhos arregalados, a pergunta tantas vezes repetida: e agora?
mas contei primeiro pro caco. ele tinha 11 anos e ia ser tio pela primeira vez. o ricota dizia que não queria ser tio, assustado pela experiência recente da tia maga que teve que adotar 3 sobrinhos (nós, no caso).
a gravidez foi incrível. eu tinha pessoas fantásticas ao meu lado. engordei que nem uma porca, andei que nem uma pata, a pele era uma plantação de perebas e eu, uma fábrica de gases ambulante. o ponto alto dos gases foi quando um arroto veio inesperado, forte e eu não consegui segurar. bem na cara do zé. corpaço.
dormia muito, dormia como nunca dormi. dormia com a eva no sofá do c.a. até a hora da aula. comia como se não houvesse amanhã. o sexo então, maravilha, nada como os hormônios da gravidez e a ausência de medo de engravidar. meu pé cresceu tanto que tive que comprar uma sandália 3 números maior que o meu, e só ela me cabia.
na gravidez eu fui livre, eu fui eu mesma, eu não tive medo de nada.
na primeira vez que minha barriga mexeu forte, eu estava na sala de aula sentada ao lado da xumiga, ela com uma cara espantada vendo as ondulações que a minha barriga fazia.
dá pra dizer que todo mundo da feusp viveu a gravidez junto comigo. do paraná até meus alunos do pea.
daí ela veio. a bolsa estourou bem no dia em que eu estava dormindo na cama do caco eu eu pensei, véi, fudeu, mijei na cama e o thiago vai me matar. foi o tempo de me ligar que não era xixi, sentir as contrações e correr para o hospital.
bea nasceu menos de 3 hs depois de eu perceber o que tava acontecendo. às 6h39 do da 24/01/98.
o parto foi incrível. foi cesárea. eu não senti tudo dentro de mim rasgar, não foi aquela coisa mística do parto normal, mas foi extraordinário pq a conclusão foi a mesma. eu finalmente ia ver a cara daquele alien que passou tanto dentro da minha barriga.
quando voltei para o quarto, a eva estava lá. foi o pimeiro rosto que eu vi quando voltei do parto.
tem tanta, tanta coisa. 19 anos é muita estrada andada. e hoje bea faz 19, a mesma idade que eu tinha quando  ganhei meu melhor presente, minha melhor amiga. quando eu não fiz nenhum plano confiando que eu seria a melhor mãe que pudesse, sem nem saber como faria isso. tivemos nossas dificuldades, muitos momentos em que a mãe foi ela. e tudo bem, pq nós duas já tínhamos entendido que mãe é gente, não super-heroína.
hoje ela faz 19 anos. e nem me importa o que ela realizou. mas o que ela é, putaqueopariu, é demais.

(post escrito em 24/01/2017)