terça-feira, 23 de setembro de 2014

saí de sala de aula ano passado jurando que não voltaria nunca mais. eu sabia que não era verdade. além de ser uma pródiga mudadora de ideias, ainda havia fatores além da minha vontade de controle.
posso dizer que não gosto mais de dar aula há uns bons anos. talvez 2010, 2009, por aí. e quando tento precisar os motivos, percebo que a aula em si não é um deles. é tudo culpa do diabo da estrutura.
pois bem, voltei há menos de um mês. não tem um final mágico e feliz em que redescobri a minha paixão e, repentinamente, voltei a amar. não. mas também não tem sido um sofrimento.
claro, preciso respirar fundo várias vezes ao dia. meus alunos tem 4 anos, e é sabido que crianças nessa idade são extremamente egocêntricas, sem contar que comem catota.
a escola tá um caos. a reforma, o descaso de sempre dá administração local, a falta de materiais adequados, de estrutura, a impossibilidade de praticar uma concepção de educação infantil me tiram do sério.
mas eu respiro.
tenho treinado a paciência. com os gestores, a boca fechada. não é covardia, apatia ou falta de vontade para a luta. é reconhecer que nesse momento, essa briga não vai resolver nada. ano que vem eles vão embora e daí, com os novos, a gente constrói e, talvez, sem que a briga seja necessária.
também treino a paciência com os alunos. minha praticidade as vezes exige mais do que eles podem me dar. me seguro, lembrando que gentileza e, principalmente, uma educação não opressora serão de maior utilidade do que gritos. me descompenso as vezes... tenho alguns lutadores de boxe na sala que me tiram do sério.
tenho pensado muito sobre essa máxima do paulo freire: quando a educação não é libertadora, o oprimido se torna opressor (mais ou menos isso). lidei na prática com isso, diariamente, no meu trabalho na secretaria. foi bom. me esforço mais para não ser uma opressora (minha educação não foi libertadora) e para trabalhar estimulando a autonomia dos meus pares (alunos incluídos no "pares").
o trabalho na secretaria foi bom, como já escrevi. tive inúmeros motivos para sair, mas o principal, esclarecendo quaisquer dúvidas que por ventura ainda existam: pq eu quis.
diferente do que ocorria há um mês, agora levanto com vontade de ir trabalhar. aprovada no concurso, espero ser chamada para o segundo cargo ano que vem. opa, mas o quê??? eu disse que nunca mais acumularia!
a vida muda. e besteira se manter irredutível em uma decisão tomada há 8 anos. preciso do dinheiro. bea cresceu e passa o dia fora de casa. acho um tédio ficar aqui nessa calmaria sem fazer nada.
lembrei daquele livro que li com uns 13 anos: "com licença, eu vou à luta". de novo e quantas vezes mais for preciso.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

"eu ainda carregaria o anel por você"

hoje fui ler aquele livro para meus alunos e me senti muito triste quando li sua dedicatória.
e me senti mais triste ao ler a história.
não quero que vc me entenda mal. não foi raiva. tampouco culpa.
pq no que diz respeito a nós, embora eu me envergonhe tremendamente de alguns erros que cometi, consigo ver claramente o outro lado. nunca e em nenhum aspecto, essa história foi uma via de mão única. isso não significa que te culpe por qualquer coisa. eu entendo, e entendo de verdade. as vezes, acho que entendo mais do que vc, e principalmente, mais do que vc me entende. isso não é uma acusação, não entenda assim. só penso que vc pensa que todos os erros foram meus.
a gente se fala muito pouco.
eu penso em você todos os dias da minha vida e muito mais do que apenas uma vez em cada um deles.
tenho muita saudade.
não sei se dá pra voltar ao que era. eu queria que desse. não quero uma coisa formal, de eventos. quero o dia a dia. quero te mandar e-mails imensos por qualquer motivo bobo e receber respostas imensas que traduzam exatamente aquilo que não consegui dizer. que responda antes que eu saiba qual é a pergunta. preciso que vc me conte o que acontece na sua vida. pq a minha memória é tão fraca quanto a minha firmeza de opiniões, e eu começo a me esquecer de um monte de detalhes sobre vc que eu não deveria/queria esquecer nunca.
quero sentir raiva quando vc fizer alguma coisa contra vc mesma, embora eu espere que vc não faça mais isso. não quero sentir raiva pq me sinto de lado, ou injustiçada, ou esquecida.
quero dançar com vc até o dia nascer, deitar na grama e ficar em silêncio, conversar loucamente sentada numa mesa de boteco, ter uma escova de dentes na sua casa, rir das nossas piadas que a gente repetia infinitamente... (nossa história, como outras, é tão cheia desses bons clichês!)
eu queria aquilo que a gente tinha de volta.
e tudo bem se vc não quer. mesmo assim, eu precisava te dizer como me sinto.
eu tbm não espero uma resposta. eu só queria dizer e tentar ser honesta, pq esse é um lance difícil pra mim. não que eu seja desonesta. só me preocupo demais em agradar e em não fazer o movimento errado, sabe? tenho medo, sou cuzona. tô tentando melhorar, juro.
acabei de ler "as vantagens de ser invisível" e a sam, melhor amiga do charlie, dizia pra ele quanto ele precisa estar presente. e dizer e fazer o que deseja. foi meio que o me motivou a escrever isso aqui. pq faz muito tempo que não digo/faço o que sinto.
se estivesse escrevendo pra outra pessoa, não contaria do livro, pq essa é uma coisa nossa. aliás, tava planejando seu presente de aniversário e quero, claro, um livro no meio e me toquei, o que achei muito triste, que não sei mais quais os livros que vc já leu. estou procurando o do neil gaiman que te falei e sei que vc vai amar, mas se eu não achar, não sei qual outro pode ser. pq essa é mais uma das coisas sobre as quais a gente não conversa.
a gente não conversa.
é exagero? pq é tão pouco, tão espaçado. tenho lido naqueles mêmes do face que quando se é amigo de verdade, não importa o tempo distante, as coisas continuam como se o último encontro tivesse sido no dia anterior. não é assim com a gente. mas eu acho que a gente é de verdade, tão de verdade que a gente não consegue usar essa desculpa aí desse même. eu fico fantasiando que a gente se quer todo dia e por isso tem a mágoa pela distância. quer dizer, eu fico fantasiando a sua parte, pq a minha eu sei que é assim.
falando mais a verdade do que eu pretendia dizer no começo, eu finjo que não me importo. que tá tudo bem. mas não está. tá muito ruim isso  pra mim.
eu espero que vc me perdoe e sei que não tem justificativa pras coisas que fiz.
eu te amo. e no fim de todas as coisas, eu ficaria bem se estivesse com vc.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

"você é a mulher que eu mais amo no mundo"

você sabe quando vai ter um daqueles dias.
começa na noite anterior. a insônia vem, mas não é do tipo apavorante. é do tipo me-aceita-que-dói-menos. pq o dia seguinte é desse tipo também.
daí ele chega. e como em tantas outras vezes, você deseja desligar a porra do despertador, cobrir a cabeça e fazer de conta que não existe.
mas você já tentou esse truque. e ele não funciona. o caralho da dor vai continuar ali, não importa se na cama com a cabeça coberta, ou se distraindo com aquela coisa idiota chamada trabalho.
com o tempo, você aprende a fazer o controle de danos. não enfia o dedo na ferida, mas também não trata o assunto como se ele não existisse. até conta uma coisa pra alguém aqui, relembra uma história lá. nada demais. nada que possa ser prolongado, nem esquecido.
você também aprende a não dar ouvidos. sempre vai ter aquele um que entende perfeitamente o que você está sentido, aquela outra que quer dar um passo-a-passo de como você deve agir, o porrinha louca que acha que o tempo cura, coitado, que engano, a vizinha que acha que é frescura. e daí você percebe uma coisa bacana: que, finalmente, não importa o que os outros sentem sobre o que você sente.
você volta pra casa. você nem queria muito, mas não tem outro lugar pra ir. olha o desenho pintado a dedo que ganhou de aniversário do seu afilhado, as fotos das suas amigas, a máscara para dormir que ganhou da sua prima, o mapa mundi cuidadosamente colado na parede pq um dia você vai ter coragem e dinheiro, o saquinho da concepção logo ali.
nada. você percebe que não tem mais nada de concreto. nenhuma foto, nenhuma peça de roupa, um rosário, um sapato, uma letra num caderno de receita.
irracionalmente, você briga com a sua filha por causa da leiteira com leite que ela esqueceu na geladeira. o cesto de lixo em cima do vaso sanitário, na verdade, mas é a mesma coisa e você sabe disso.
você deita e chora. chora por outros motivos, outras dores que também não são bobas. tem gente que acha que são, mas você não deve ligar pra isso pq, como já diria sua bisa, pimenta no cu dos outros é refresco. ela não dizia isso, mas ela dizia que se enfiar um no cu do outro não dá meio, ou que quanto mais a gente abaixa mais o rabo aparece, então acho possível que ela dissesse isso também. cobre a cabeça mas já não faz mais sentido, porque precisa buscar e ninguém encontra nada debaixo do cobertor.
você levanta de novo, e o choro é daquele que brota sem barulho, manja? é até gostoso, você já chorou gostoso? você entra no banheiro e sua filha diz que você está sorrindo um sorriso estranho.
no espelho você vê melhor. você recorda.
e depois disso, tudo fica meio arredondado. cada pedaço da casa fica macio.
você sabe. lá vem outra noite daquelas.
tudo bem. se não existe nem céu nem inferno, só sobrou um lugar, certo?
o lado de dentro.

domingo, 9 de março de 2014

where you lead, I will follow


if you're out on the road
feeling lonely and so cold
all you have to do is call my name
and i'll be there on the next train

where you lead, carole king


faz um tempo que eu me acostumei com a ideia que minha família sou eu e a bea. sabe, com quem você pode contar para absolutamente tudo?
só que não é assim.
eu sou um ser turrão. orgulhosa. que finge que não sente para fazer de conta que a dor não existe. que não relembra para evitar a saudade. que briga para ter motivo para justificar afastamentos. que inventa na cabeça motivo para lonjuras.
sem bancar a coitada, convenhamos que já perdi demais (vocês também). mãe, pai, irmã, entre outros, e eu afasto a saudade a maior parte do tempo porque ela me sufocaria se eu permitisse. ficaria mergulhada nela e não existiria. o que existiria de mim seria só saudade.
daí criei nos últimos anos um mecanismo bem burro, mas eficaz.
porque a gente não perde as pessoas só na morte. separações de casais, afastamentos de amigos, família que a gente fica distante, tudo isso, são saudades que vão crescendo aqui dentro.
e sabe, a culpa é minha. sou tão cuzona que me imponho distâncias para não sofrer.
me imponho distâncias quando as outras pessoas não demonstram amor da mesma maneira que eu, tipo, como meus irmãos.
eu os amo. tenho vontade de grudar neles, em cada um. eles são meus heróis. queria jantares semanais, cafés diários, conversas telefônicas longas.
mas as pessoas são diferentes e sentem diferente.
eu quero voltar no tempo. quero almoços de domingo com a família completa, a parte viva completa, tios, tias, irmãos, vó, primos, primas.
não dá, eu sei. a vida tomou outro rumo. as brigas apartaram. as separações... separaram. as pessoas fizeram outras escolhas, e por mais que eu deteste, elas tinham todo o direito do mundo!
e eu odeio eles por isso também. como uma criança mimada, eu me revolto com o fato de que as pessoas foram viver suas vidas. de que tem gente nova nas histórias. eu gosto das gentes novas. mas eu não gosto de mudança.
quando o tio foi embora semana passada, naquele jipe cheio de coisas, construir a vida dele em outro lugar, eu chorei. egoísta, achei que todo mundo fosse ficar aqui sempre. quando o outro tio diz que vai embora, meu coração fica minúsculo. é egoísmo também, eu sei. quando a tia namora um cara que eu não sou fã, eu sofro também. como uma criança mimada.
eu posso contar com a minha família. toda ela. com o thiago que vive me socorrendo como se fosse ele o irmão mais velho, com o matheus que vive pendurando no telefone contando todas as suas coisas e ouvindo as minhas, com o silêncio presente do henrique, com o saulo que foi ficando e que nem dá pra lembrar que um dia ele não esteve, com as minhas avós, sempre fortes e resmungonas, com a minha tia que mesmo puta comigo não me deixaria na mão, com meus tios que sempre substituíram meu pai, cada um fazendo um pouco, até o tio cá que pendurava no boteco um lanche depois da natação, mesmo sem ter dinheiro, para que eu não ficasse sem comer.
o abraço apertado da tia tó que levou uma eternidade ontem e que podia ter levado outra, porque eu queria mais! meus primos, duas criaturas tão fofas, decentes, amorosas. minha prima que eu devo tanto, nossa, e ainda assim me trata com tanto carinho. e eu só cansei de continuar blasé, fazendo de conta que essa não é outra saudade que me sufoca. me sufoca! criança mimada.
a minha família é tudo isso. com tudo isso eu posso contar, mesmo quando eles brigam entre eles, mesmo quando eu brigo com eles, mesmo quando, como agora, parece que não vai juntar nunca mais.
o que eu entendi ontem é que junta de novo sim. nem as lonjuras separam. nem as brigas.
e eu prometo que não vou mais me fazer de durona. com ninguém

sábado, 22 de fevereiro de 2014

bate é na memória da minha pele

sabe aquela fala de que sofrimento envelhece?
estava eu aqui brincando de maquiagem, senão pela primeira vez na vida, pelo menos pela primeira vez que me lembro.
ando notando, há alguns meses, que a coisa deu uma caída.
lá em 2012, no aniversário do meu irmão que, como sempre é campeão em detonar minha parca auto-estima:
essas bolsas sob os olhos estão péssimas.
assim. do nada. de repente, um míssil te acerta, e o que era território seguro não é mais.
claro que não foi de repente. mas eu realmente não andava me olhando no espelho.
as bolsas melhoraram. nada como começar a dormir um pouco melhor e ser um pouco mais feliz.
gravem isso: de novo, envelhecimento relacionado a sofrimento.
(pq era assim que eu estava pensando mesmo sem saber que estava)
de uns tempos pra cá, pós sumiço das bolsas, ando reparando na pele. molinha, sabe? as pálpebras meio que esticam e não voltam pro lugar... e ando cuidando mais, passando creme, usando maquiagem. então, eu não sei como era antes, pq antes eu não cuidava e não olhava. não tenho muito parâmetro, imagino que era mais firme, talvez mais fácil pra passar o lápis... se eu passasse lápis.
e pensando agora enquanto pinto meus olhos, de novo, se eu pelo menos não tivesse sofrido tanto... (drama queen)
lembrei de uma amiga. e ela dizendo que nos últimos anos deu mesmo uma caída, pensei mas ela sofreu tanto.
sim. na minha cabeça, má qualidade da pele está relacionada a sofrimento emocional. e se eu for pesquisar no google, aposto que acho uma batelada de pesquisas relacionadas a isso (ou relacionando a má qualidade da pele a falta de sexo. argh. me irrita esse pensamento).
daí nos últimos meses, ando prestando atenção em como a mulherada sofre com essa pressão.
não que eu não enxergasse antes.
só que agora os 40 estão mais perto do que os 30, então.
uma colega de trabalho chorando pq precisava de uma plástica na região dos olhos. e fez. e honestamente, eu gostava bem mais antes.
tem uma senhora que almoça no mesmo lugar que eu. ela me assusta um pouco, o medo do espelho. toda esticada, mas com as dobras nos cantos, como que escondidas só que não. todo o corpo trabalhado (cheio de dobras nos cantos tbm). e sempre penso, que pena que ela não percebeu que envelhecer é melhor que a outra alternativa.
eu podia contar que esses dias ela foi almoçar só com o jaleco do hospital (ela é médica), sem calça com a bunda de fora. mas desqualifica, né? e quem nunca esqueceu as calças? eu já.
a verdade é que todos os dias eu preciso me lembrar que é melhor envelhecer. preciso me lembrar tanto que virou um mantra diário. preciso deixar de lado a cobrança das outras pessoas, além da minha, por um corpo melhor, uma pele melhor, um cabelo melhor, ai, que cansaço. preciso me lembrar de manter a coerência do discurso.
pq por um momento me esqueci. e a consulta com o cirurgião plástico é segunda-feira.
e agora, moleque? vou-não-vou, faço-não-faço, o-importante-é-o-que-eu-sou?
no campo do ideal, tá fácil.
no dia a dia é que o bicho pega.
e não, envelhecer não é sinônimo de sofrimento, tristeza não causa rugas. o que causa rugas é o tempo, que, graças aos deuses, pra algumas pessoas é longo.
espero ficar bem enrugadinha.

sábado, 4 de janeiro de 2014

0 2013

no último ano aprendi diversas coisas.
as que eu mais gostei foram sobre mim.

não importa se tenho 35. como antes, como aos 15, tenho um defeito que parece incurável: a intempestividade.
eu não sabia a palavra, até ontem, conversando com a eva sobre o carma. parece que esse é o meu.
tento mudar, todas as vezes. especialmente quando vejo que estou a ponto de explodir. tento conter. tento ser ponderada, refletir, calar, mas jorra, tudo jorra daqui...
ontem, naquele local coxinha em que eu trabalho, entra uma das supremas e começa a reclamar sobre o programa de distribuição de leite aos alunos. porra. respirei fundo, mas mesmo quando tento me conter, as pessoas provocam.
blablablá, pq isso é um absurdo, vc não acha?
não, não acho.
cricricri. sim, foi o momento. sou responsável por vários momentos cricricri, eu e minha grande boca.
saí da sala. se ficasse, explodiria. eu sempre explodo.
não, não estou orgulhosa do meu defeito. mas eu o reconheço. assumo. e me aceito.

de tanto o tio nei insitir com o respira, acabei mesmo aprendendo. bom, com o defeito da intempestividade, é o mínimo que posso fazer.
briguei muito esse ano. briguei principalmente contra as injustiças. nenhuma foi confortável, todas doeram, as internas então, cacete, tive vontade de socar minha própria cara algumas vezes. não ganhei todas, não me lembro de ter ganhado nenhuma. mas acredito que todas valiam a pena.
briguei para me defender de algumas acusações que considerei e considero injustas, briguei pelo meu direito de ter mudado, briguei para poder ser eu mesma. vou continuar brigando por isso.

no começo de 2013, fui processada. não foi confortável. eu sabia que não estava errada, que não havia possibilidade de perder, mas putaqueopariu, ô sensação desagradável essa.
precisei de um advogado, mas o que o marquinhos nem desconfia é que precisei dele para me conter. meu medo era precisar abrir a boca na audiência e... brigar.

a bea se queimou seriamente.
a bea foi diagnosticada com labirintite. para algumas pessoas isso é bobeira, para outras pessoas, assustador. para mim é bobeira, pq o que pouca gente sabe é que a suspeita, enquanto realizávamos todos os exames, era de um tumor cerebral. a labirintite, portanto, é uma benção daqui do lugar onde estou sentada.

eu achava que era uma pessoa de raízes, mas descobri que gosto de ter rodas nos pés. viajei muito em 2013, se considerar meus padrões anteriores. comecei com guarujá, depois ubatuba, rio de janeiro (duas vezes), piacatu, mato grosso do sul... teria voltado à argentina se tudo estivesse mais tranquilo por aqui.
e mais importante: todas essas viagens foram feitas com o maior prazer.

andei de avião de novo e nem chorei dessa vez, até curti.

troquei de emprego. não gostei no começo, gostei no meio e agora no final continuo gostando. o final não precisa ser final, mas ainda não tenho certeza de nada. para que certeza?

fiz amigos absolutamente deliciosos! sandra, lívia, néia, vanessa, elizabete, cleuber, marcio e as nossas manhãs divertidíssimas. estressantes tbm com aqueles diretores loucos, mas tê-los comigo fez toda a diferença.

curei uma velha dor de cotovelo. mais importante que isso, desconstruí um personagem que eu, sozinha, inventei. o cara que eu amei nunca existiu, e embora isso pareça dramático, é muito verdade. vivi um pequeno período de luto quando descobri isso, mas foi bom. e agora posso até ser amiga sem frescuras. entender as vezes aquele velho clichê de que o que a gente ama é o amor, ou o espelho, é bom pra caralho.

meu tio parou de beber. são só 6  meses e ele vai ser alcoólatra para sempre, mas o que importa é o agora. agora ele está sóbrio, agora ele dá paz para minha avó, que me dá paz! ele se cuida melhor, ela se cuida melhor, eu me cuido melhor, a bea se cuida melhor... estamos todos juntos, né? o que afeta um, afeta o outro.

meu irmão aprontou, foi jubilado da usp, e não existe nenhum mas para eu escrever sobre isso. fiquei triste, fiquei puta, e tento lembrar todos os dias que é a vida dele, são as escolhas dele.

aprendi a me amar. eu sei, é uma vergonha que isso só tenha acontecido aos 35 anos. voltei a me olhar no espelho. eu sei de novo, é ridículo, mas eu não me olhava mais. gostei do que vi, mas percebi que precisava de uns consertos... corri aos médicos, fiz os exames, tratamentos, até no dentista, que fujo mais do que o diabo foge da cruz, eu fui! comecei a prestar mais atenção nas porcarias que coloco pra dentro, e devagarinho, comecei a emagrecer. sabe o que foi mais engraçado? comecei a emagrecer no momento em que, mesmo gorda, comecei a me achar bonita.
tem umas molezas. umas estrias novas, celulites que nunca tinham aparecido nas minhas belas pernocas, umas ruguinhas ao redor dos olhos... que eu gosto, pq gosto muito da alternativa de envelhecer!

essa foi a parte mais bacana: percebi que eu quero muito estar viva. eu não quero mais a morte.
tem muita coisa ainda e eu quero estar aqui para ver todas. talvez com a memória combalida, com os peitos caídos, cheia de rugas na testa, mas eu quero muito estar na vida.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

o bendito (?) do carma

liguei o computador pq precisava responder umas mensagens vencidas no facebook e odeio escrever pelo celular. daí, no meio do caminho, lembrei que precisava vomitar o que tem atormentado minha cabeça nas últimas semanas: carma.
estou vomitando, portanto, não quero ordem por aqui. tudo jorrando, aleatoriamente conforme o que me vem à cabeça no melhor estilo desabafo. quer dizer, mais ou menos, pq não consigo controlar o toc a ponto de não voltar e fazer as correções ortográficas e de digitação imediatamente...
anyway. caraio, o que é isso, tô pagando a língua??? sempre odiei essa englishização do português e aqui estou eu completamente dominada por isso.
carma.

na cabeça, o que ronda é:
aqui se faz, aqui se paga.
a vida (ou suas variáveis, como o universo, o mundo) devolve.

máximas do cristianismo:
não faça aos outros o que vc não quer que façam para você.
ame ao próximo como a ti mesmo (portanto, não cague na boca dele - ou isso aqui deveria estar após a máxima citada acima?) 

e tem outras:
amor com amor se paga.
quem com ferro fere, com ferro será ferido.

gaahh. agora, imagina vc, tudo isso gritando dentro da sua cabeça, atordoando sua consciência e impedindo seu sono tranquilo há semanas?
tem motivos, claro. coisas que vão acontecendo ao redor, comigo e com as pessoas que estão na minha vida que, poooorra! dá uma novela. e das mexicanas, que eu tenho talento é para isso, como bem diria meu irmão thiago (apesar de eu discordar da criatura, hunf).

dá tbm um monte de baratos, tipo:
satisfação.
dor.
compaixão.
satisfação.
lamento.
eu te disse!
eu não disse?
decepção.
satisfação.

opa, mas péra, deixa eu exorcizar a vadia vingativa que habita meu corpo e tentar de novo:
compaixão.
lamento.
decepção.
satisfação... (um pouquinho que não sou de ferro)

o problema disso, ou a coisa boa é que de tanto pensar sobre o assunto, percebo também a armadilha que é acreditar em carma:
tá passando fome? carma - fez alguma coisa de ruim pra alguém.
perdeu tudo na enchente? carma - deve ser ruim que nem uma praga.
foi estuprada? carma - fica provocando.
quer dizer. é possível usar o tal do carma para quase tudo de ruim que acontece com as pessoas, coisas essas que poderiam ser evitadas se vivêssemos num mundo mais cooperativo, mais humano, mais solidário, mais amoroso... ai. tanta coisa poderíamos ser.

ah, eu e minhas digressões.
carma.

e o medo? se eu for um pouco má com alguém, vou pagar depois... outro instrumento de controle e culpa, esse carma!
ainda assim, e com tudo isso, como é que a gente explica esse monte de gente pagando pelo que fez?

vou ficar com a explicação do sábio dr. house: não é pq vc ama que vai dar certo, ou que vc não ama que vai dar errado e vice-versa. não é pq vc é uma pessoa boa que sua vida vai ser um sucesso e não é pq vc não é uma pessoa boa que a sua vida vai dar errado e vice-versa.  não há garantias, todo mundo tem chances de se foder e chances de não. não há nenhuma magia cósmica nisso. quase uma roleta russa, essa vida.

no fim, vou me converter mesmo é a essa tal de aleatoriedade, sem deixar de lado, claro, o lance do diabo da estrutura na questão das injustiças sociais (pq nesse caso, não há aleatoriedade nenhuma).
mas isso é assunto pra próxima conversa. vou tentar dormir que parece que insônia é meu carma.