quando tô triste, como.
hoje comi pão de queijo, café, café com leite, mais café, mais café com leite, pão de batata com requeijão, trio do burguer king (com cebola), 3 bisnagas, um pacote de oreo, um sanduíche de salame com maionese e agora, pra fechar, farinha láctea. são só 16:43.
quando tô feliz, como normalmente. faz tempo. ou talvez não faça tanto tempo, mas são espaçados.
hj eu tenho razão de estar triste. pq anteontem a elizete me ligou a noite querendo saber se eu tinha notícias da maria rosa, e poucas noites antes a glória tinha ligado fazendo a mesma pergunta. disse para as duas que estava tudo bem. que tinha falado com ela. que ela tinha dito que teve um baixa de resistência, mas que poderíamos vê-la quando ela estivesse melhor.
só que eu estava errada e a rosa também. ontem na hora do almoço, a glória ligou e só de ver o número eu sabia o que era. e depois quando atendi, ela só chorava.
por um tempo, eu só chorei. daí me distraí com palhaçadas, piadas me distraem facilmente.
mas hoje de madrugada a realidade teria que ser encarada.
que realidade?
uma mulher que nunca disse uma palavra maldosa sobre qualquer pessoa.
que sempre tinha uma coisa bonita pra dizer.
que percebia os dias de baixa auto-estima e sacava um "vc é tão maravilhosa". mentira. ela dizia isso pra mim todos os dias.
que foi exemplo de verdade em todos os dias da vida.
uma professora competente e amorosa, com uma paciência infinita.
(juro que não é aquela síndrome do "morreu, virou maravilha")
partiu.
partiu.
e eu, estúpida, burra, mesmo conhecendo na pele as implicações de um câncer no fígado (vide mamãe), me atrevi a ter esperança. o contrário do que sempre dizia para os outros fazerem. minha vontade da rosa era tão grande que eu fui incapaz de imaginá-la inexistindo.
"vocês eram colegas de trabalhos?"
"vocês eram próximas?"
"ah, é ruim quando um colega de profissão falece".
pára gente. vcs estão falando da minha rosa (perdoem a possessividade). uma mulher que eu amo absurdamente e que tenho certeza (como tenho a respeito de muito poucas pessoas), me ama também na mesma medida.
eu sei de tudo.
de tudo que as pessoas podem dizer.
eu já ouvi antes todas as palavras de consolo e também já as proferi. e posso garantir que não há consolo.
eu sei tbm que não passa nunca (se alguém conseguiu, abençoado seja). não passa, mas melhora.
queria dizer para os filhos dela que essa dor absurda, que torce o peito e tira o ar e parece que a gente morre junto, melhora. diminui. diminui até a gente quase esquecer. mas não se iludam, é só quase.
eu ainda não consigo acreditar que a maria rosa não existe mais.
quando a minha mãe morreu escolhi "canção da américa" como sendo a nossa.
sinto, mãe, mas agora vc vai dividi-la com a rosa.
"amigo é coisa para se guardar
debaixo de sete chaves
dentro do coração
assim falava a canção que na América ouvi
mas quem cantava chorou
ao ver o seu amigo partir
mas quem ficou, no pensamento voou
com seu canto que o outro lembrou
e quem voou, no pensamento ficou
com a lembrança que o outro cantou
amigo é coisa para se guardar
no lado esquerdo do peito
mesmo que o tempo e a distância digam "não"
mesmo esquecendo a canção
o que importa é ouvir
a voz que vem do coração
pois seja o que vier, venha o que vier
qualquer dia, amigo, eu volto
a te encontrar
qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar"
a gente dividiu almoço ao sol no ibirapuera; dividimos a angústia de uma atribuição que não fazíamos ideia de como fazer; dividimos carros sumidos, carros batidos; dividimos marmitas de macarrão com brocóli, dividimos uns 700 dias inteiros. vi a mayara e o vinicius crescerem, ela viu a bea crescer, vibrou comigo quando meus irmãos passaram na usp. acompanhei o pai dela partindo. me xingou e ficou de mal pq pedi remoção. tomou café da manhã comigo.
senti seus braços finos ao redor do meu pescoço algumas vezes nos últimos meses, com vários "eu te amo" trocados.
hj dei um beijo na testa da minha amiga pela última vez, e já tenho saudade.