já tentei quase tudo nessa vida em termos de religião.
algumas coisas, nem foi por conta própria, pelo menos no início. lá de onde eu nem tenho memória, sei que teve um batizado na igreja católica e outro no terreiro de umbanda, os dois quase ao mesmo tempo, na mesma época. coisas da minha vó maria, mulher porreta que encontra Deus em todos os lugares em que vai.
na infância, fiz catequese, chatíssima por sinal. todo sábado de manhã tendo aulas que eu não entendia. me lembro que entendia tão vagamente o conceito de pecado que, momentos antes da primeira comunhão, não sabia o que confessar ao padre. e depois, com a penitência em mãos, também não entendia o que tinha que pagar... até que uma amiga me fez ajoelhar e fingi que rezava, pq já havia esquecido qual era o preço dos meus pecados.
na adolescência, me revoltei com Deus. não tinha grande apreço por nenhuma religião e achava tudo uma grande fantasia dos homens. passei anos atéia, mas uma atéia em dúvida. nunca tive certeza de que Deus não existia. eu acreditava que não, mas certeza não tinha, e olha que interessante: essa crença me exigia fé, eu que achava que não tinha esse material.
já adulta, comecei a frequentar um centro espírita aqui perto de casa. ia sábado pela manhã, assistia palestras, tomava passes... acho bacana essa dinâmica de pessoas orando pelo bem de outra. é bonito, não é egoísta, deixa a gente um pouco longe do individualismo que não nos deixa pensar nos outros. mas daí, assisti uma palestrante metendo o pau em outras religiões e fiquei tão puta que nunca mais voltei.
e ironia da vida, fui parar numa igreja evangélica. ironia pq como é sabido, khaleesi, evangélicos acham que só eles estão corretos e só eles estão salvos (salvos de quê, senhor-da-glória-infinda!). ali, me joguei. me batizei novamente, pela primeira vez por escolha, apesar de não acreditar que era necessário: Deus sempre nos reconhece, oras. pensar que ele repudia alguém, dentro da doutrina dessas igrejas, é só mais um dos muitos enganos cometidos.
acabei deixando também a igreja evangélica, e o engraçado é que nem foi por falta de fé. foi por excesso mesmo. eu não via mais no discurso majoritário dentro desses espaços a coisa que pra mim deveria ser a mais importante: o amor pelos outros (por favor, não me acusem de pieguice).
nesses anos longe, tenho pensado um bocado sobre Deus. e percebi que não importa a forma que dão pra ele, ou que eu dou pra ele. essa mania de ter razão é tão irritante quanto desnecessária. percebi que gosto mesmo é do jeito da minha avó de crer.
por isso que, agora, vou experimentar o budismo.
p.s.: ainda não sei o que confessar para o padre.
as vezes a coisa por aqui pode até ficar meio melancólica. blog ligeiramente confessional.
domingo, 26 de maio de 2013
sábado, 11 de maio de 2013
nunca deixe se levar por falsos líderes, todos eles se intitulam porta vozes da razão
"hei você que tem de 8 a 80 anos
não fique aí perdido como ave
sem destino
pouco importa a ousadia dos seus planos
eles podem vir da vivência de um ancião
ou da inocência de um menino
(...)
nunca deixe se levar por falsos líderes
todos eles se intitulam porta vozes da razão
pouco importa o seu tráfico de influências
pois os compromissos assumidos quase sempre ganham
subdimensão"
trecho de como diria dylan, zé geraldo
hoje eu quero escrever meio que um diário. apesar de íntimo, acho que diz respeito a questões coletivas.
fico especialmente sensível em abril e maio, não é segredo pra ninguém que me conheça. o motivo também é sabido e apesar de eu custar a admitir, tem tudo a ver com autopiedade.
que seja. anda passando. essa introdução só está aqui como forma de, talvez, minimizar a minha covardia.
aos fatos: na escola, tínhamos decidido entrar em greve a partir de segunda-feira. uma parte da escola, quase todo o período da manhã, do qual eu faço parte.
não era um desejo intenso da minha parte, uma crença total na efetividade da coisa. depois de anos com a greve sendo comandada pelo nosso difícil presidente do sindicato, com um histórico negativo, a pelega aqui não estava animada. e mais por culpa do que por engajamento, resolvi aderir.
na mesma noite, me arrependi, mas não podia voltar atrás. sabe quando você se sente massa de manobra? minha impressão é de que a categoria está sendo usada para atender a interesses políticos muito pessoais. pq, justo agora, o sindicato está sendo tão ferrenho na defesa do movimento? não é coincidência o presidente ser oposição ao atual governo, bem como não é coincidência ele ter sido da situação no anterior.
não sou oposição. não estou totalmente satisfeita, tenho vários questionamentos, não vejo mais o partido como eu via antes, mas ainda assim, não acredito nas outras alternativas, sequer nas que se declaram mais a esquerda. não confio em vanguardas, de um jeito ou de outro, elas sempre me cheiram a elite, ainda que sob um disfarce simpático.
acho as reivindicações muito justas. não discordo de absolutamente nenhuma. mas discordo do momento e da pressa em decretar greve.
esse meu coração se ressente de falas reacionárias, especialmente daquelas que não dão a cara para bater e se disfarçam de apoio ao movimento. e agora eu vou contar da direção da escola.
ontem, durante a jeif (uma espécie de reunião diária dos professores, pra quem não é iniciado), nosso diretor foi nos fazer uma proposta, que consistia em: já que iríamos aderir à greve, que garantíssemos os dias letivos de modo a não precisar repor com os alunos depois, mas apenas as horas, durante a semana.
aqui, um aparte: dessa forma, a direção não teria que abrir a escola aos sábados para que fizéssemos uma reposição de verdade. e eu, correndo o risco de ser apedrejada, acredito em reposição de verdade.
na prática, a coisa aconteceria assim: os professores grevistas se dividiriam em dois grupos e alternariam o dia de greve, dia sim, dia não, os alunos seriam atendidos na sua totalidade ainda que sem nenhuma qualidade e enlouquecimento total dos 3 professores presentes no dia (somos 7 no total), que teriam de dar conta de todo um turno sozinhos.
reagi de uma forma que nunca esperei: voltei atrás. fui desonesta e usei a proposta dele para me dar um suporte. pior, não tive sequer coragem de me posicionar enquanto ele estava na sala. fiquei intimidada, não tive coragem de contar a ele o absurdo que achei daquela proposta, o quanto ele estava sendo desonesto por, na frente do comando de greve apoiar totalmente o movimento e depois vir com uma daquelas... fui cuzona. isso mesmo: cuzona.
saí da escola achando que tinha sido a melhor decisão. e depois, de novo em casa sozinha, fiquei pensando e repensando em tudo e me dando conta de que sim, eu podia ter mudado de ideia, mas devia ter tido coragem para ser honesta com meus amigos de trabalho. e que eu devia ter dito tudo que pensava, naquele momento mesmo, ao diretor. ainda que eu tivesse que ouvir que sou briguenta e não sou fácil de lidar. a sensação de não ser aceita do jeito que sou seria bem mais fácil de lidar do que essa sensação de não ter sido quem eu sou, ou pior ainda, a sensação de "será que é essa que sou eu?".
volto agora ao começo do post. não tenho direito de usar nenhuma dor, por mais antiga e legítima que seja, para justificar a minha covardia.
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