Desde novembro, o que vem dominando por aqui é a ansiedade.
Mas não é aquela ansiedade normal de todo dia. A bicha é bruta, malvada mesmo, do tipo que faz ver a batida do coração, que carrega o sono embora por dias, que angustia fechando a garganta.
Em nome dela, fiz e não fiz muita coisa. Fui impaciente, grossa, agitada, chorona, fechada. Não me diverti tanto quanto poderia, remoedora que sou. Passeei menos, amiguei e amei menos também.
As desculpas todas de trabalho: remoção, atribuição, chamada do concurso, escolha de cargo novo, exame médico de admissão, acúmulo de cargos e a lista pode bem ser infinita se eu insistir nela.
A despeito da ansiedade, tudo vinha dando certo, até hoje. Que deu errado e eu sabia que daria, mas fiquei ignorando de propósito o que sabia.
A primeira reação foi a de desesperar e chorar. Afoguei a mágoa, como de hábito, num pastel de catupiry com milho verde e um copo de suco de laranja, me enfiando em seguida na biblioteca atrás de livros para fugir da realidade.
Mas existem os amigos e o zapzap. E com saudade, fui abraçar duas queridas no metrô, que me levaram pra uma pizza com outra querida e Bea de lambuja. No meio de tanta conversa, de Cartagena, Bogotá, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraty, Mongaguá, fui desapegando da ansiedade e acalmando o coração.
De coração acalmado, lembrei que o sofrimento é grande demais por uma coisa que desejo tão pouco e com tantas ressalvas. Dinheiro é importante e posso dizer que depois de quase 10 anos na pindura, quiçá a vida toda, é muuuito importante. Ou no caso, urgente. Mas não é a coisa que mais importa pra mim. Nunca foi. Pra que regredir agora?
Sim, eu preciso e não desisti. Só que, talvez, o não ouvido hoje tenha sido uma chacoalhada boa pra lembrar eu mesma sobre quem eu sou, e que essa coisa que nem é tão importante assim, não merece todo o sofrimento que vem causando nos últimos meses. Não merece o sofrimento que eu mesma venho me causando nos últimos meses.
Eu sei que amanhã não vou acordar diferente de hoje, calma e equilibrada. Mas quando estiver caindo naquela roda-viva de angústia e ansiedade, vou me beliscar, respirar e lembrar que, se no fim não der tudo certo, a gente acha outra saída.
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