sábado, 27 de abril de 2019

and ignite your bones

talvez se eu parar agora para sentir totalmente a tristeza e botar tudo para fora eu não perca mais um pedaço de uma boa noite de sono tentando negar a dor.
talvez eu deva colocar os potes reaproveitados com as farinhas, ervas, açúcares (os permitidos) em cima do armário, ainda que não fique tão bonito, mas fique mais funcional.
talvez eu deva reler eclesiastes, ainda que tenha finalmente me assumido umbandista.
talvez eu deva ouvir fix you e, finalmente, sentir euforia ao invés de tristeza pq, finally, lights will guide you home.
talvez um dia eu perca essa mania de ignorar a dor, fingir que ela não existe, só pra ver ela explodir depois bem no meio da minha cara.
talvez eu deva parar de concentrar tanta energia em ser forte e deva me concentrar um pouco em me permitir.
fui repor aula hoje. voltei pra casa imaginando reações diferentes às dores que já vivi. não as dores inevitáveis, mas aquelas que,
talvez,
a gente possa escolher viver.
é abril.
meu abril é despedaçado há 23  anos.
meu abril sempre vai ser despedaçado.
pq algumas dores são inevitáveis.
o que dá pra evitar é me bater. sim, eu não posso beber em abril. eu exagero, eu me anestesio.
mas se eu bebo: foda-se. é a minha dor. e ao menos eu, essa pessoa finalmente fodona, empoderada e que se ama, posso me perdoar.
eu perdi a conta de quantas vezes sentei no chão do quarto nos últimos anos e prometi pra mim que seria a última vez que eu sofreria por causa do meu pai, da minha mãe,
da minha irmã.
talvez eu deva aceitar que nunca vai ter uma última vez.
então. hoje, quando eu voltava do trabalho, imaginava que tive uma reação completamente diferente quando o rodrigo ficou com a mariana.
eu me imaginei nunca mais falando com nenhum dos dois, mantendo a dignidade, estilo pitty só não desonre o meu nome.
me imaginei usando a dor pra correr. pra escrever meu livro. pra me cuidar como eu sei fazer agora.
me imaginei usando a dor pra construir e não pra me auto-destruir.
é desse tipo de dor que falo quando falo de escolhas.
mas eu sei que não é tão simples nem tão somente uma questão de escolher.
cada escolha tem uma história que vem antes e cada dor também.
e eu queria ser amada por um homem, desse jeito romântico aí. na época, eu ainda queria.
depois passei anos sem querer.
agora eu quero de novo. mas não por qualquer homem. quero ser amada pelo homem que eu amo.
o que é impossível.
então,
essa dor,
dessa vez,
eu estou escolhendo viver de outro jeito.
tô correndo. trabalhando. não tô escrevendo meu livro pq mal tô conseguindo escrever esse post (parece que sufocar amor faz mal pro meu estilo).
mas eu não paralisei.
amor não correspondido é um cu. dói.
não tô falando que tá fácil.
e nem era sobre isso que eu queria escrever.
e tô escrevendo mas tô pensando que preciso:
corrigir provas,
fazer sgp,
chorar muito,
sair pra correr,
tomar café com leite (de soja),
assistir grey's anatomy.
vou parar pq isso aqui tá péssimo.
mas principalmente pq preciso chorar tudo pra fora.



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